Para grande surpresa, ontem recebemos, na nossa escola, a
visita das escritoras Isabel Alçada e Ana Maria Magalhães. Estava previsto irmos
à escola de Monserrate, contudo como estava a chover, essa atividade ia ser
cancelada. As autoras, para que esta visita a Viana não fosse em vão, tomaram a
iniciativa de nos visitar, pois, tal como afirmou Isabel Alçada, se os alunos
fossem a pé para Monserrate “ficavam uns pintos”.
No decorrer desta visita, as escritoras responderam a
várias questões que os alunos já tinham preparado previamente. A Joana fez o
papel de entrevistadora, ou repórter de serviço.
Entrevistadora:
É difícil ser escritora?
Isabel Alçada:
Não é difícil quando já se tem muitos anos de escrita e treino, mas também não
é fácil.
Entrevistadora:
Quanto tempo em média leva a escrever um livro?
Ana Maria
Magalhães: Depende. Se for da coleção “Uma aventura” em média, dois meses
ou dois meses e meio. A Cartuxa foi um bocadinho mais porque foi o primeiro da
coleção: em média 3 ou 4 meses.
Entrevistadora:
De onde vem a inspiração sempre que escrevem uma história?
Isabel Alçada:
A melhor inspiração vem dos meninos, dos nossos leitores. Nós somos
professoras, conhecemos bem os meninos, e inspiramo-nos não só nos meninos, mas
também nos gostos que os meninos têm. Percebem? E depois também gostamos de
coisas giras e não gostamos nada do que não presta.
Ana Maria
Magalhães: Vamos aos sítios. Por exemplo, o livro “Uma aventura na noite
das bruxas”, fomos escolher uma quinta nos arredores de Lisboa, vimos várias e
só depois escolhemos uma. “Uma aventura na escola” foi muito fácil: Passou-se
na escola onde eu e a Isabel trabalhávamos. Não foi nada difícil porque
estávamos lá.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi7MV5GXNMh-wDapUVhpHST70VVuk3SPbIuXdtj-SQ7uzjU_X3O-p7mgPthBuJiYzgYSYZHyGxSgieI3y_R9VH3PK78yS3uso0pe2JOCnSjymwDhIQ6BUysA2H5ca8NlAA9jdrMNaeq9Jc/s320/IMG_2074.JPG)
Isabel Alçada:
Olha, nas Ilhas de Cabo Verde, tivemos que ir a Cabo Verde; No Palácio da Pena,
tivemos que visitar o palácio várias vezes, a várias horas do dia e até da
noite.
Entrevistadora:
Baseiam-se em factos e pessoas reais, para escreverem as vossas histórias?
Ana Maria
Magalhães: As gémeas, o Pedro o Chico e o João foram nossos alunos. Sempre
que possível integramos nas nossas histórias, as pessoas que pertencem ao
local, por exemplo, se fosse aqui na escola, não podíamos participar todos,
participavam dois ou três, ou se fossem necessário professores, podíamos
convidar por exemplo, a professora Marília.
Isabel Alçada:
Já na Bruxa Cartuxa, tivemos que inventar o Eco.
Entrevistadora:
De todos os livros, qual é o que gostaram mais?
Isabel Alçada:
Nós gostamos de todos os livros, mas gostamos sempre mais do que é mais
recente, porque é como se fosse o nosso bebé. É como nas famílias! As pessoas
gostam dos bebés, mas também gostam dos irmãos mais velhos. Mas eu depois tenho
um preferido… é “Uma aventura no Bosque”.
Ana Maria
Magalhães: Para mim é “Uma aventura nas férias de Natal II”, porque são
aventuras que eu vivi na quinta dos meus avós quando tinha a vossa idade. E
depois… claro acrescentamos uns pozinhos de fantasia. Eu contei essas histórias
à Isabel e fizemos esse livro. Tenho por isso um carinho especial, porque são
histórias mesmo minhas… da minha vida…
Entrevistadora:
Como conseguem escrever as duas em parceria?
Isabel Alçada:
Primeiro combinámos muito bem a história, depois sentámo-nos, uma vai dizendo
uma coisa, outra vai dizendo outra, vamos escrevendo, é um trabalho de grupo.
Vocês fazem trabalho de grupo? Então é igual.
Entrevistadora:
Têm conflitos? Como os resolvem?
Isabel Alçada:
Nunca temos conflitos. Nós detestamos conflitos. Quando uma não gosta de uma
coisa, o que é que fazemos, diz lá?
Ana Maria
Magalhães: Não se faz isso. Se eu disser à Isabel, “Vamos fazer uma
aventura em que esta casa explode” se ela não gosta, se ela não quer, não
fazemos. Fazemos outra coisa.
Isabel Alçada:
Nós temos que chegar a acordo porque o trabalho é das duas. Além disso, nós
somos as duas, as irmãs mais velhas, e as irmãs mais velhas nunca gostam muito
de conflitos, e pensamos sempre numa coisa que é: “a falar é que a gente se…
entende!”
Entrevistadora:
Qual será o vosso próximo livro?
Isabel Alçada:
Olha, destes livros da bruxa Cartuxa nós já temos outro que se vai chamar, “A
bruxa Cartuxa e o segredo do primo Eco”, e nesse livro descobre-se o segredo do
Eco, que era o único que ela não sabia.
Ana Maria
Magalhães: Ele é rico em frases feitas. Cada vez que ele diz uma dessas
frases feitas, as coisas acontecem. Por exemplo, se ele dissesse “a professora
Cecília está-se nas tintas”, ela ficava encharcada em tintas.
Isabel Alçada:
… ou então, “Oh meninos, vocês estão todos de trombas”, e vocês ficam todos com
trombas...
Entrevistadora:
Não querem escrever uma aventura em Viana do Castelo?
Ana Maria
Magalhães: Queremos já há muito tempo, mas ainda não foi possível. O país
inteiro pede aventuras. Para fazer uma aventura aqui, não dá para vir cá um dia
a correr e ir embora e está feita a aventura. Tem que se conhecer muito bem a
terra, as pessoas… Temos que ter tempo e ainda não houve tempo.
Entrevistadora:
De que gostam de falar com os vossos leitores?
Isabel Alçada:
De livros, de escrita e responder às perguntas deles.
Entrevistadora:
Quais são as vossas ocupações preferidas?
Ana Maria
Magalhães: Ler, escrever, estar com a família, de jantar fora de vez em
quando, ir ao cinema, ouvir musica, ir à praia, passear,…
Entrevistadora:
Qual o sonho que gostariam de concretizar?
Ana Maria
Magalhães: Só me falta um sonho e não sei se vou conseguir, que era fazer
uma viagem pelo Canadá, mas ir àquela zona onde há ursos, veados, mas ó que o
meu marido não quer ir, e eu sozinha também não vou.
Alunos: Podiam
ir as duas.
Isabel Alçada:
Nós já viajamos juntas. Já fomos à Amazónia, era um sonho das duas. Fomos e escrevemos
“Uma aventura na Amazónia”. Eu tinha um sonho que era guiar aviões, mas eu acho
que já não tenho idade para guiar aviões.
É sempre bom ficarmos a conhecer
pessoas tão importantes e tão emblemáticas da literatura portuguesa para
meninos e meninas da nossa idade.